quinta-feira, 1 de outubro de 2009

ARTIGOS DOS ACADÊMICOS 2009

MISSIONARIEDADE E PROFETISMO


Cleonildo de O. Paulo e Marcos do N. Miranda

Mais um ano está se passando e, uma nova etapa em nossa vida está iniciando. Todos nós (missionários e missionárias) devemos nos preparar para iniciarmos bem essa etapa Missionária. Esta missão nós escolhemos e Deus nos concedeu confiante que cada um seja missionário da paz, do amor e da justiça. A nossa alma deve estar disposta a engrandecer o senhor por meio do nosso empenho, ajudando as pessoas na propagação do Evangelho até os confins do mundo (Mt 28, 20), especialmente aqui na Amazônia que é uma região sedenta do Evangelho. Ele liberta de injustiças, cura as feridas causadas pela a opressão e salva.
Para fazermos uma boa missão devemos antes de tudo, nos desarmar, ou melhor, quebrar o preconceito, porque iremos encontrar pessoas com sérios conflitos interiores, principalmente os próprios catequistas. Essas pessoas às vezes estão apenas precisando de um sorriso, que penetre o próprio coração. Um sorriso é a chave eficaz que você tem para adentrar num coração fechado e transformar num coração aberto e acolhedor.
Devemos está consciente que na missão estamos evangelizando os evangelizadores (especialmente nossos catequistas), e sendo aprendiz evangelizador. E quando se trata do trabalho missionário na Amazônia, quantas mazelas existem, como nos apresenta o TEXTO-BASE da CNBB (Semana Missionária para a igreja católica na Amazônia. p. 09-10) “prostituição infantil, violência no campo, distâncias enormes, ação pastoral cara, a proliferação desagregadora de grupos pentecostais, desrespeito para com o nativo...”. Mas, evangelizar é compromisso da Igreja, não importa os empecilhos.
A tarefa missionária deve continuar como forma de animar nossos catequistas e comunidades para um maior compromisso com a VIDA e a missão. Aparecida anuncia “anunciemos Jesus Cristo e a Boa Nova do Reino de Deus, denunciemos a situação de pecado, as estruturas de morte” (DAp 95).
Outro ponto bem característico do missionário deve ser o caráter profético. Dom Helder Câmara já dizia: “não deixe a profecia morrer”. É inadmissível ser um missionário na Amazônia e não interiorizar o caráter profético de Jesus e de ser anunciante da Boa Nova como foi o MESTRE. Caso contrário correremos o sério risco de cairmos na mais profunda alienação onde o anúncio seria transformado em algo meloso, choroso, sem assim atingir o ponto central que é o sofrimento e a angústia do nosso povo pobre e sofredor.
Uma das coisas mais fortes em Jesus era o seu profetismo. Ele não compactuava com as injustiças de seu tempo. Denunciava com coragem de quem não aceitava ver o sofrimento do seu povo e ficar calado, e condenava todo e qualquer tipo de opressão. Evidente que Jesus não ficava só na denúncia, mas dava o conforto da palavra que cura e santifica e acalmava a angústia de seu povo que tanto sofria.
Nós missionários de hoje devemos fazer o mesmo: levar um Evangelho que liberta e santifica e não que cega e impede o agir diante de realidades tão conflituosas como as presente na Amazônia. O apóstolo Paulo, grande missionário da igreja cristã soube como a minoria, o que é ser um fiel seguidor de Cristo, vivendo dificuldades como:
“[...] naufrágios, fadigas, perigos de morte, flagelo, apedrejamento, fome, sede, nudez... sempre fizeram partes do cotidiano da missão de muitas/os evangelizadoras/es dos primeiros tempos.” (Entendendo a carta aos Filipenses. p.55 paulus, São Paulo, 2009.).
Na conjuntura atual a realidade da missão não é diferente. Ainda existem inúmeros elementos que dificultam o trabalho realizado na Amazônia.
A vida do batizado é uma árdua missão e se realmente queremos ser bons discípulos e discípulas não podemos ser covardes em querer fugir desta missão.
Por fim, mediante ao que relatamos sejamos credo missionários e profetas, anunciadores da “terra sem males” e denunciadores das injustiças que colocam a vida de nosso povo em sérios riscos. Que na experiência missionária deste ano tenhamos plena consciência daquilo que vamos anunciar, para não corrermos o perigo da hipocrisia: pregar o que não vivemos ou anunciar algo que se quer acreditamos. Que NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO interceda por nós a Cristo, nos dando uma bênção rica em coragem e perseverança para realizarmos mais uma bela missão.
O HOMEM: UM SER INCOMPLETO
Elias Martins Loureiro
Socorro Bentes
Willians Valentin
Entender o ser humano sempre foi interesse de muitos estudiosos. Os grandes filósofos no decorrer da historia tentaram de inúmeras formas compreender o homem, fazendo as mais variadas buscas no sentido de entender também a si próprio. O fato de o homem ser um problema complexo atesta na historia dos primeiros pensadores, todos eles, desde os tempos primórdios da filosofia, buscaram desvendar essa complexidade do homem fazendo estudos e pesquisas, mas o que se percebe é que em todas as tentativas não se chegou a uma conclusão precisa. A questão que mais incomodava Sócrates era “conhece-te a ti mesmo”.
Grandes pensadores da Antiguidade (Platão, Aristóteles), da Idade Média (Santo Agostinho, Santo Tomás) e da Idade Moderna (Descarte, Kant, Hegel, Marx, Heidegger) estudaram apaixonadamente o ser humano. Contudo nenhuma de suas mais brilhantes indagações ou conclusões foram capazes de satisfazer o interesse buscado nesta pesquisa. Foi baseado em alguns desses pensamentos, e sentindo a necessidade de mais um dos aprofundamentos nesse assunto, que este texto revela um conhecimento obtido a partir de observações diárias e algumas leituras nesta linha de pensamento.
É muito comum ouvir, principalmente dos enamorados, a expressão “você é per feito (a) para mim” ou ainda, “uma obra perfeita”. As pessoas brincam com assunto tão complexo como se conhecesse todo o sentido da palavra, mas essas afirmações não passam de impressionar o ser amado ou de se dar bem em suas conquistas amorosas. Na verdade, o ser humano fica se iludindo pensando que é perfeito, mas não é; que sabe, mas não sabe; ou que é completo mas ai é que se engana. Este assunto dirá que o homem é um ser: incompleto, imperfeito e ignorante (não sabe o que faz para se completar).
O ser humano é uma obra que não foi acabada. O grande arquiteto que fez o homem não terminou sua obra. Se ele já estivesse completo, se a obra que é fosse “terminada” não buscaria constantes transformações em sua vida; bastaria existir e tudo estaria resolvido. Mas, ao contrario, o aperfeiçoamento da obra faz com que ele fique a vida toda em busca de satisfazer suas vontades. Para Mondin. (1980. p 130)
O estudo da vontade nos fez constatar que ela caracteriza o homem essencialmente: O homem é decididamente um homo volens. Ele se distingue dos outros seres porque é dotado de vontades. São-lhes tributados elogios e infligidos castigos porque suas ações são guiadas e determinadas pelo seu querer.
Para esse estudioso, o “querer” é a parte vazia que o ser humano tem em si mesmo, e a cada momento ele tende a se completar com as buscas que faz no imenso universo estereotipado de sua vida. E, quando encontra algo que lhe interessa, fica contente por algum tempo, mas logo é preciso inovar seu desejo com algo novo, já que as coisas deste mundo também não são completas, logo, não irá completar a angustia do homem. É por isso que ele nunca chega a um limite desejável de realização, quanto mais procura, ai é que parece não encontrar o que procura e passa a vida toda, até sua morte, nessa angustia sem satisfazer sua vontade plenamente. Assim, sua incompletude é acompanhada pela imperfeição. Nada está do jeito que ele gosta, sempre haverá um motivo para reclamar da vida; e diante disso ele não sabe o que fazer fica experimentando uma e outra coisa. Assim afirma Malebrache. (1638-1715).
Não encontro em mim mesmo a luz que possa me esclarecer a respeito da natureza de meu ser;tenho bem o sentimento ou a consciência de que sou, que penso, mas não o conhecimento do que sou. Dos dois cogito cartesiano: sou, existo, sou uma coisa que pensa, só subsiste o primeiro; a consciência ou o sentimento que tenho de mim mesmo não é a idéia ou o conhecimento que teria de minha natureza.
A lição de Malebrache é que não poderíamos tirar de nós mesmos nenhuma ciência, nem a ciência de nós mesmos. a Psicologia tende ajudar o homem no sentido de amenizar os problemas criados por ele mesmo, em muitos casos ainda não conseguiu. Só ira responder verdadeiramente essa questão quando também compreender a incompletude que lhes angustia.
Quando o homem ficará completo? A respeito disso, fala Anaxágoras que “é a inteligência que põe tudo em ordem e pode ser a companheira perfeita do homem, já que ela é procurada universalmente” (et all, 1997). Isso primeiro deu uma sensação de alegria, em virtude do resultado esperado para responder os interesses do homem. Por pouco essas buscas não foram deixadas de lado depois de longos estudos e leituras tende posto todo ardor e ansiedade, em busca do ser “completo” . Mas constatou-se que a inteligência não é a causa de todas as coisas, pois “compreendemos apenas o que é claro e ainda não entendemos o perfeitamente o obscuro”,esta foi a conclusão deste pensamento. O domínio de si próprio. pelo qual só fazemos aquilo que queremos e não o que querem, os desejos tirânicos e descontrolados, não passa de uma aquisição, uma conquista. Porque todos os homens, até os mais sábios tem em si uma espécie de desejo mau que a razão não controla e nem destrói. Assim falou Hegel (1770-1831)
Só acedo minha consciência como homem, se mostro que posso arriscar minha vida; mas me atenho, aliás, à vida; não sou puro espírito, isto é, pura liberdade. Atinjo a consciência de mim mesmo; a consciência que tenho de mim está inicialmente separada em duas figuras, a do senhor que representa em mim que não me reduzo à vida, a do escravo que representa em mim o ser vivo, ligado á vida que, contudo sou.

Hegel não quer, evidentemente, dizer que os homens, antes de se reconhecerem mutuamente como homens, conheceram, na noite dos tempos antigos, algum tipo de “guerra expiável”, esse cerimonial é a luta; “não é a simpatia ou o amor que elevam a consciência de si para a consciência de si como homem, mas é o combate até a morte” (et all, 1997). Esse desejo faz com que o homem se organize em grupos onde juntos irão buscar o mesmo objetivo, em contrapartida, surge outro grupo que não concorda com o que o primeiro grupo diz ou pensa, porque vê nas ações e nas organizações desse grupo um meio de aprisionamento ou uma espécie de coersitividade, tudo isso visando responder os desejos de ter sucesso na vida. Isso faz surgir duas forças: uma resiste a outra, em muitos casos, chegando a se manifestar de forma violenta. Toda violência é resultado de dois grupos que se enfrentam, e essa disputa é sempre em busca de interesses próprios, desejo do homem se completar naquilo que faz. Para Rousseau (1712-1778):
A aparência insidiosa, a qual engana e se enganam os teóricos do pacto de escravidão, é que na guerra, o vencedor tem o direito de matar o vencido; o escravo, o individuo ou o povo seria o vencido, que teria trocado sua liberdade pela vida .
Posto que nenhum homem tem autoridade natural sobre seu semelhante, e que a força não produz nenhum direito, mantêm-se, pois, as convenções como base nas autoridades que os grupos tentam legitimar. O homem sempre vai buscar realizar seus desejos e vontades em alguma coisa, que pode ser isolado, ou em um grupo onde está inserido. Neste caso, além dos grupos; políticos, jurídicos, ele cria outros que vai desde o grupinho de assaltante das esquinas, até o mais organizado dos grupos sociais e ONGs. Isso faz com que ele coloque regras na sociedade, crie leis, influencie pessoas a lhe apoiarem, faça um mundo de coisas somente para alcançar seu objetivo esperado. E quando não consegue fica frustrado, explosivo, agressivo com outras pessoas e consigo mesmo; o traficante se rebela, (a policia é acionada explode um combate...), chegando até ao assassinato ou suicídio somente para aterrorizar a sociedade ou deixar suas “marcas” para ser reconhecidos e ficarem famosos pelas suas façanhas.
Diante disso tudo é certo afirmar que o homem estará sempre a caminhar rumo as suas ambições, desejos, realizações e tentará responder a outras incompletudes que lhes angustiarão a vida inteira.

REFERENCIAS
ET ALL, ( grupo de professores) Os filósofos através dos tempos. De Platão a Satre. São Paulo: Paulus, 1997.
MONDIN, João Batista. O homem. Quem ele é? elemento de antropologia filosófica. São Paulo: Paulinas, 1980, pp 106-107.

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